Recordar Brel olhando o mar do sul da australia

O primeiro mês do ano está quase a terminar e conto os meses para a proxima viagem: de novo a Indonésia pois claro! Precisava de uma pausa total e completa para viajar sem o sentimento de ter coisas para fazer. A licença sabática soube-me a muito pouco, tais as actividades em que estive envolvido. Não pude respirar e ter o sentimento de ter o tempo por minha conta. Foi apenas um ano sem aulas que foram preenchidas com as outras actividades da minha profissão... será esse o objectivo de uma sabática? Enfim, fiquei com o mesmo desejo de ter uma que me dê liberdade total de acção e não igual à anterior... Só mesmo com uma licença sem vencimento, mas dou-me conta que sobrevivo de um salário que não me permite poupar... neste deambular pela frustração, Brel e a recordação de uma costa linda vai fazendo sentido e devagarinho vai preenchendo este cantinho da minha memória... ne me quitte pas é uma canção cheia de angústia. O mar revoltado é atenuado com a suavidade da onda em surf... Na angústia encontra-se sempre um ponto de saída... Num pedido surge uma oportunidade... Numa luta..mesmo em derrota surge outra luz... é assim a vida...

Na Birmânia há muitos anos

Finalmente encontrei as fotos da minha viagem á Birmãnia. Num país que comecei a oferecer a minha t-shirt ao guarda de fronteira para me deixar passar as restantes tshirts, canetas e outros utensílios domesticos para trocar por artesanato daquele lindo pais. A chegada tive de adquirir uma caderneta onde seriiam registadas as minhas despesas, ou seja,um justificativo do dinheiro cambiado na fronteira. Viajar na Birmãnia é viajar ao passado. Um return to the past onde hábitos da colonização britânica ainda perduram principalmente nos aspectos burocráticos. Mas um por do sol Birmãnez éalgo que se não se consegue sentir em outra parte do mundo.Uma bola gigante e vermelha se põe para alem dos templos de pagan deixando uma atmosfera alaranjada de nos cortar a respiração. Um pais em ditadura é uma afronta para uma população simpática e gentil que vive o seu dia a dia ao lado dos militares que controlam até a respiração de cada um... num ambiente que precisa do papel e do carimbo em tudo para se poder circular...

Em azurara à procura de alargar horizontes...

Ha mes e meio que chove em portugal e o tempo cinzento favorece a depressão. Procuro nos arquivos o explendor deste mar que se encontra de cor de chumbo com a areia salpicada de poluição. No Verão não é assim, apesar das enchentes num areal cada vez mais curto... O melhor de azurara são as estações intermédias, onde o azul do céu e do mar contrasta com a areia menos poluída. São os melhores momentos para o surf, para o kite surf que observo da minha janela e para os passeios pela costa até ao Mindelo. Sinto pena que não seja assim todo o ano e que a poluição encha o areal após os primeiros vendavais de Outono! às vezes penso quando o areal ficará totalmente comido pela fúria das ondas e a minha casa não restar uma triste lembrança... são os momentos da depressão de inverno que depressa se afastam com o raiar do sol no mar, como um espelho mágico que me aponta para a sua beleza. São nesses momentos que saco do vinho verde e saboreio calmamente o ambiente do mar, da cidade ao longe e o suave barulho das gaivotas e das ondas a despejarem amor na praia...

Ano novo vida nova...

Todos os anos dizemos isso e chegamos ao fim e não lhe encontrámos diferenças significativas... Mas cada ano que passou trouxe-nos novas experiências e com efeito envelhecemos... nunca gostamos deste pormenor porque nos encurta a sensação do que falta mas se olharmos para traz, o ano que passou traduz a experiência vivida... Este ano conto regressar à Indonésia, ao surf naquelas ondas mágicas. A Indonésia traz-nos aventuras, aquele barco que nos leva a Komodo,o mergulho em aguas transparentes,os peixes tropicais e as cobras de água marinha... a subida às montanhas nas Flores... ah e as raias e os tubarões nestas aguas não são o melhor para mim que me faz bater o coração num momento de poupança de oxigénio... mas naquela imensidão de coisas para fazer, terminar o dia com o sol a por-se muito rapidamente sobre a linha do equador, com um vinho branco australiano e gélido na mão, à espera do cruzeiro do sul que irá aparecer após a noite se iniciar, ainda com o fundo claro da linha do horizonte...