Timor de novo

A viagem ao Sulawesi surgiu pela impossibilidade de entrada em Timor. O Estado de emergencia foi instaurado mesmo na véspera da minha partida para Dili. De Bali partimos para Java e dali para o Sulawesi. Foi uma viagem magnífica mas que não retirou a nostalgia por Timor. Da sua população e muito especialmente dos meus alunos. Surge agora oportunidade de regressar. Mas a vida em Dili continua difícil, militarizada, vigiada com ataques de uns sobre outros. Vinganças, poder sobre os indefesos, ajuste de contas. Sinto-me triste por estado de coisas que só num país onde o pouco é nada para muitos pode , se possível, justificar os meios de violência. A abertura da universidade, o recomeço das aulas é lutar contra a violência e pela normalidade de um povo que o merece, antes e agora depois da sua independência. Por isso o desejo de retomar essa normalidade em Dili.

As viagens dentro de nós

Como se costuma dizer, em terra está-se sempre no mar quando este nos apela à fuga ou à libertação! Quando não se viaja e o local onde se vive se vai fixando, salta a memória de outras viagens ou sonha-se com viagens futuras. Quem vive no mar vai-se afastando desse ponto de referência em terra. Quem viaja vai cortando essa ligação , primeiro na sua rede profissional , depois a familiar e as vezes mesmo as da amizade. Dizem que a família é o último ponto de contacto dessa viagem interior, mas acho mesmo que são os amigos. A família são amigos especiais e felizmente isso acontece na maior parte das vezes mas nem sempre. Uma família reencontrada é a âncora que se lança no mar para uma paragem de reflexão. Mas não deixa de ser a amizade que se encontra presente nesses momentos. Há amigos que não desaparecem dessa longa viagem dentro de nós. O mar apenas lhes lava o rosto da memória.